A medicação é frequentemente vista como uma solução promissora, mas também levanta questões e preocupações: será a escolha certa? Quais os seus reais benefícios e potenciais riscos?
Neste artigo, esclarecemos o papel da medicação no tratamento da PHDA, exploramos as opções disponíveis em Portugal e demonstramos como esta pode ser complementada com outras abordagens eficazes.
O Papel da Medicação no Tratamento da PHDA
A medicação para PHDA é frequentemente vista como uma solução controversa: para uns, é um verdadeiro herói, aliviando sintomas e permitindo maior foco e produtividade 💪; para outros, é um vilão, associado a efeitos secundários como insónia, perda de apetite ou alterações de humor 😞.
A verdade está, como em muitos casos, no meio-termo.
Os medicamentos não curam a PHDA, mas podem ajudar a regular o funcionamento cerebral, permitindo que a pessoa consiga tirar maior proveito de outras terapias, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e/ou o neurofeedback.
É importante lembrar que a medicação para PHDA não é uma solução única, mas parte de um plano de tratamento integrado e personalizado.
Diretrizes Internacionais para o Tratamento da PHDA
⚠️ De acordo com as recomendações internacionais, os medicamentos não são indicados como tratamento de primeira linha para todas as pessoas com este diagnóstico.
A prescrição de medicamentos é geralmente recomendada emcasos de sintomas moderados ou graves, e apenas quando o tratamento psicológico não produziu resultados satisfatórios.
Esta abordagem procura assegurar que o tratamento seja o mais seguro e eficaz possível, reduzindo o risco de efeitos secundários desnecessários.
Tipos de medicamentos para PHDA disponíveis em Portugal
Em Portugal, existem algumas opções de medicação para a PHDA, aprovadas e regulamentadas por entidades como o Infarmed.
Estes medicamentos dividem-se em duas categorias principais: Estimulantes e Não estimulantes.
Medicamentos Estimulantes para PHDA
Os estimulantes são a abordagem mais utilizada no tratamento da PHDA.
Estas substâncias atuam aumentando os níveis de dopamina e norepinefrina no cérebro — neurotransmissores que ajudam a regular a atenção e o comportamento, estando também ligados ao fenómeno de neuroplasticidade.
Conheça alguns exemplos:
Ritalina®, Concerta®, Rubifen®: contêm metilfenidato, frequentemente a primeira escolha medicamentosa para o tratamento da PHDA, sobretudo em crianças.
Elvanse®: contém lisdexanfetamina, geralmente indicada como primeira opção para adultos, sendo mais comum em crianças quando não há adaptação ao metilfenidato.
👍 Principais vantagens dos medicamentos estimulantes:
Início de ação rápido (cerca de 30 minutos).
Facilidade na toma (comprimidos de libertação prolongada requerem apenas uma dose por dia).
Disponibilidade em diversas formulações, permitindo maior flexibilidade no tratamento.
O metilfenidato é comparticipado pelo SNS.
👎Principais desvantagens dos medicamentos estimulantes:
O período de adaptação até encontrar o medicamento e a dose "ideal" pode ser complexo e acompanhado de uma sensação generalizada de mal-estar.
Possíveis efeitos secundários, como: falta de apetite, insónias, dores de cabeça, dores abdominais, perda de peso, tiques motores ou vocais, ansiedade, labilidade emocional, náuseas, vómitos e diarreia.
“Efeito crash”: ocorre quando o efeito do medicamento começa a diminuir, levando o cérebro a uma queda brusca de estimulação. Este fenómeno pode causar fadiga intensa, irritabilidade, perda de foco e mal-estar geral, como um "desligar repentino" após um estado de elevada produtividade e concentração.
⚠️ Nota importante: os efeitos secundários não são frequentes na maioria das pessoas, sendo cada caso único e necessitando de acompanhamento individualizado.
Medicamentos Não Estimulantes para PHDA
Os não estimulantes são uma alternativa importante para o tratamento da PHDA, especialmente em casos onde os estimulantes não são bem tolerados ou não apresentam os resultados esperados.
Estas substâncias atuam de forma mais gradual, regulando os níveis de norepinefrina e promovendo um efeito estabilizador em recetores cerebrais.
Conheça alguns exemplos:
Strattera®: contém atomoxetina, que é um potente inibidor seletivo de recaptação da noradrenalina no cérebro.
Intuniv® (não disponível em Portugal) e Catapresan®: contêm, respetivamente, guanfacina e clonidina. Atuam reduzindo a libertação excessiva de neurotransmissores e regulando a atividade neural.
👍 Principais vantagens dos medicamentos não estimulantes:
Não causam o “efeito crash” presente nos medicamentos estimulantes e têm menos relatos de casos de abuso ou uso inadequado.
Possuem benefícios adicionais: a atomoxetina é eficaz para sintomas de ansiedade e perturbações comportamentais, enquanto a clonidina/guanfacina é útil para o tratamento de insónias.
A atomoxetina é comparticipada pelo SNS.
👎 Principais desvantagens dos medicamentos não estimulantes:
São menos eficazes no controlo da PHDA e, por isso, são geralmente utilizados apenas em casos de falha terapêutica ou contraindicação aos estimulantes.
Possíveis efeitos secundários: dores de cabeça, queda de tensão, náuseas, vómitos, diarreia, cansaço, alterações de comportamento e irritabilidade.
Devem ser usados com cautela em pessoas com problemas cardíacos.
⚠️ Nota importante: os efeitos secundários não são frequentes na maioria das pessoas, sendo cada caso único e necessitando de acompanhamento individualizado.
Perguntas Frequentes sobre a medicação para PHDA
Os estimulantes, como o metilfenidato (Ritalina®, Concerta®, Rubifen®) e as anfetaminas (Elvanse®), são os mais utilizados, com uma ampla base de evidências clínicas. Estes medicamentos aumentam a disponibilidade de dopamina e noradrenalina nas regiões do cérebro responsáveis pela atenção e pelo controlo de impulsos.
Para pessoas que não respondem bem aos estimulantes ou apresentam efeitos secundários significativos, os não estimulantes, como a atomoxetina, a guanfacina e a clonidina também podem ser opções eficazes.
É comum os psiquiatras utilizarem a resposta à medicação como um indicador complementar no processo de diagnóstico: se o medicamento alivia os sintomas de forma consistente, reforça-se a hipótese de PHDA.
Por outro lado, se não houver melhoria, pode ser um sinal de que outra condição subjacente, como ansiedade ou dificuldades de aprendizagem, deve ser investigada.
Os estimulantes atuam rapidamente, geralmente entre 30 a 60 minutos, e têm um efeito direto sobre a dopamina e noradrenalina, melhorando a atenção, o foco e o controlo de impulsos. Costumam ter ação prolongada e são mais eficazes na maioria dos casos.
Já os não estimulantes têm um início de ação mais lento, podendo levar semanas para atingir o efeito ideal. São mais indicados quando há risco de efeitos secundários graves ou histórico de abuso de substâncias.
Os medicamentos estimulantes podem causar tolerância e dependência psicológica se não forem usados de forma adequada. No entanto, quando administrados corretamente sob supervisão médica, o risco de dependência é muito baixo.
É importante diferenciar entre o uso terapêutico, que visa o controlo dos sintomas, e o uso recreativo ou abusivo (por conta própria), que pode aumentar o risco de dependência. Os medicamentos não estimulantes apresentam um risco muito menor de dependência.
A escolha do medicamento e a dosagem são feitas com base numa avaliação detalhada do histórico clínico, resposta ao tratamento, peso corporal e tolerância aos efeitos secundários. O ajuste é realizado gradualmente, com monitorização para avaliar a eficácia e os possíveis efeitos adversos. Pode levar semanas ou meses até encontrar a combinação ideal, por isso um acompanhamento profissional é necessário.
A combinação pode ser segura, mas depende dos medicamentos e suplementos envolvidos. Por exemplo, alguns antidepressivos ou ansiolíticos podem ser combinados, com precaução. Já suplementos como melatonina podem ajudar com os distúrbios do sono associados à medicação.
Contudo, é essencial informar o médico sobre todos os medicamentos e suplementos em uso para evitar interações perigosas.
O tratamento não precisa ser vitalício em todos os casos. Algumas pessoas precisam de medicação apenas durante períodos de maior exigência, como a infância e a adolescência escolar, enquanto outras podem continuar até à idade adulta. O uso prolongado é reavaliado periodicamente, tendo em conta a evolução dos sintomas e as mudanças nas exigências da rotina.
Por isso, é importante que o tratamento medicamentoso seja combinado às abordagens não farmacológicas, como mencionamos abaixo.
- Melhoria na capacidade de concentração
- Redução da impulsividade
- Maior controlo emocional
- Diminuição de comportamentos hiperativos
- Maior facilidade para completar tarefas diárias que antes eram difíceis
Se esses resultados forem alcançados sem efeitos secundários significativos, isso indica que a medicação está adequada.
Se não houver melhoria ou se os efeitos secundários forem intoleráveis, o médico pode ajustar a dose, mudar o horário de administração ou experimentar outro tipo de medicação, como trocar um estimulante por um não estimulante.
Também é importante verificar se a pessoa está a seguir corretamente as orientações e se há fatores externos, como sono inadequado, que podem influenciar a resposta ao tratamento.
A falta de resposta à medicação pode ser um indicativo de que o diagnóstico precisa ser reavaliado. Muitas vezes, quando a medicação não surte efeito, o psiquiatra investiga se há outras condições coexistentes ou se o quadro inicial foi confundido com outra perturbação, como perturbações de humor ou ansiedade.
Sim, principalmente os estimulantes. Algumas pessoas relatam insónias e perda de apetite, especialmente no início do tratamento – mas é uma questão individual e, portanto, não está presente em todos os casos.
Ajustar a dose ou o horário de administração, mudar para uma formulação de ação curta ou considerar a adição de um suplemento podem ajudar a minimizar esses efeitos.
Sim, nalguns casos. Estas interrupções, conhecidas como "férias de medicação", devem ser planeadas com o médico.
Nem todas as pessoas beneficiam desta abordagem. Em crianças com sintomas graves, as pausas podem causar retrocessos significativos. Contudo, em casos mais leves, pode ser uma forma de reduzir a exposição contínua ao medicamento.
Abordagens complementares à medicação
É importante lembrar que a medicação é apenas um dos pilares no tratamento da PHDA.
Outras terapias podem ter um papel fundamental, especialmente quando combinadas com os medicamentos:
Abordagem
Como ajuda?
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
A TCC ajuda a pessoa a identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais, promovendo estratégias para gerir a impulsividade e melhorar a organização.
Neurofeedback
O Neurofeedback é uma técnica que utiliza feedback em tempo real sobre a atividade cerebral para ajudar a melhorar a regulação emocional e o foco.
Intervenções Educativas e de Estilo de Vida
Alterar o ambiente de estudo ou trabalho, praticar exercício físico regular e manter uma alimentação equilibrada podem também fazer diferença.
Considerações Finais
A medicação para a PHDA não é uma solução milagrosa, mas pode ser uma ferramenta valiosa no contexto de um tratamento personalizado e multidisciplinar.
O mais importante é reconhecer que cada caso é único e que o acompanhamento profissional é fundamental para alcançar os melhores resultados. 🧑⚕️
Se considera que você ou o seu filho podem beneficiar de um tratamento mais abrangente para a PHDA, entre em contacto connosco.
Na NeuroImprove Clinic, oferecemos uma abordagem integrativa e direcionada, que inclui uma avaliação inicial com qEEG, sessões de neurofeedback e apoio psicológico especializado.
Referências:
National Institute for Health and Care Excellence. Attention deficit hyperactivity disorder Diagnosis and management of ADHD in children, young people and adults. NICE Guideline 2019. Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/ng87
Mechler K, Banaschewski T, Hohmann S, Häge A. Evidence-based pharmacological treatment options for ADHD in children and adolescents. Pharmacology & Therapeutics, Volume 230, 2022. doi: 10.1016/j.pharmthera.2021.107940
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