Quando falamos da eventual presença de dificuldades de aprendizagem, falamos da necessidade de se realizar uma avaliação completa, complexa e delicada para uma intervenção eficaz.
Tendencialmente, aguarda-se o diagnóstico formal para a implementação da intervenção. Contudo, este só deve ser feito dois anos após a aprendizagem formal da leitura e da escrita, dado que os erros são assumidos como parte integrante do processo de aprendizagem do aluno e que normalmente desaparecem com o tempo. Não obstante, existem vários sinais de alerta que devemos ter em conta e que permitem a análise e avaliação necessárias para cada caso. São também estes sinais que permitem a implementação de estratégias reeducativas precoces que permitem abordar as dificuldades.
Desta feita, ainda que o diagnóstico efectivo requeira vários elementos como a história médica, familiar e educacional, bem como avaliações escolares prévias e avaliações psicopedagógicas, o decorrer desse mesmo processo não é de todo impeditivo de uma intervenção adequada que torna possível minimizar as consequências das dificuldades nas aprendizagens, sejam atuais como no futuro da criança que as manifesta.
Durante o processo de avaliação é necessário não só definir e caracterizar as áreas em dificuldade, mas também perceber se têm a ver com o ritmo de aprendizagem da criança, que poderá ser mais lento e corrigido com o decorrer do tempo, do treino e do próprio processo maturacional. Além disso, também é necessário excluir hipóteses que expliquem a presença de dificuldades visuais, auditivas, cognitivas e/ou lesões cerebrais. Aliás, no âmbito da capacidade intelectual, o próprio DSM-5 define como critério diagnóstico que não pode existir uma incapacidade intelectual, pois as dificuldades cognitivas não são condição imprescindível para a presença de uma Perturbação de Aprendizagem específica, pelo contrário. Assim, a crença que ainda persiste - de que as dificuldades de aprendizagem se devem a uma capacidade intelectual inferior - não passa de um mito que deve ser desconstruído.
O objectivo é fazer a melhor avaliação possível para não se incorrer numa classificação rotulada e incorrecta das dificuldades. É importante identificar os factores que melhor as explicam e perceber também se, mediante o factor tempo, as dificuldades diminuem, visto que, não sendo uma Perturbação de Aprendizagem específica cuja presença é permanente no indivíduo, as dificuldades das crianças podem ser totalmente ultrapassadas com a finalização do processo de aprendizagem da leitura e de escrita.
É possível e desejável intervir precocemente pois, conforme referido, sendo estas perturbações de carácter permanente, quanto mais cedo se intervier, melhor serão minimizadas as dificuldades. A avaliação individual, ainda que não formal, e a intervenção precoce permitem ainda reduzir consequências como a baixa motivação, a baixa auto-estima (especialmente face às competências académicas), as retenções e o abandono escolar.
Não menos importante, o facto de se intervir atempadamente também torna possível identificar áreas fortes na criança, úteis para potenciar o seu bom funcionamento e desempenho noutras vertentes e o seu bom desenvolvimento geral.