Muito se tem falado da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), também conhecido como Transtorno de Hiperatividade e Défice de Atenção (TDAH). No entanto, nem tudo o que se diz corresponde efetivamente à verdade e às características das crianças com esta perturbação.
Assim, é importante esclarecer alguns dos mitos e factos que surgem à volta da PHDA:
FACTO: A PHDA é uma perturbação do neurodesenvolvimento e não uma invenção. Se a PHDA fosse uma invenção recente ou uma justificação para os comportamentos disruptivos da infância, não estaria descrita há tantos anos e sempre com os mesmos comportamentos.
FACTO: É verdade que não existe nenhum exame clínico ou outro teste objetivo que "prove" a existência da PHDA. O diagnóstico da PHDA é clínico, o que significa que resulta da integração de informação de diferentes fontes, da recolha de dados sobre a história de desenvolvimento, as dificuldades atuais e a interpretação dos resultados de várias provas de avaliação que medem as funções executivas e enquadram os comportamentos de acordo com o esperado para a faixa etária.
FACTO: A forma como os pais interagem com os filhos e estabelecem limites tem naturalmente implicações no comportamento destes. No caso da PHDA, porque estas crianças são mais desatentas, impulsivas e/ou irrequietas, desde muito cedo colocam desafios aos pais muito mais difíceis de superar (raramente ouvem à primeira, não param quietas, fazem tudo ao mesmo tempo, dispersam-se com tudo à sua volta,…). Os pais de crianças com PHDA são confrontados com uma maior exigência na forma como se organizam e comunicam, o que se pode tornar bastante difícil e desgastante.
FACTO: A PHDA é uma condição que acompanha a criança ao longo da vida. As vulnerabilidades existirão sempre. O que acontece é que a sua manifestação e impacto das características se modificam ao longo da vida em função do próprio desenvolvimento humano, das exigências do contexto e das próprias competências e estratégias que vão sendo desenvolvidas.
FACTO: O açúcar não causa a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. Contudo, quer o açúcar, quer alimentos processados e refrigerantes, são prejudiciais à saúde. Ainda assim, existe uma corrente que defende que o açúcar interfere com o comportamento hiperativo e que deve ser feita uma dieta alimentar específica como tratamento.
FACTO: A hiperatividade tem uma base genética, mas também é influenciada por outros fatores ambientais e de desenvolvimento. Estudos têm sugerido que há uma tendência para a hiperatividade se manifestar em famílias, o que sugere um componente genético. No entanto, o quadro completo é complexo e ainda não está completamente compreendido.
FACTO: O metilfenidato não causa dependência. A sua função é atenuar os sintomas, pelo que quando termina o seu tempo de atuação, os sintomas voltam a surgir como anteriormente. A dosagem recomendada pelo médico resulta da ponderação entre o peso e a medida de impacto dos sintomas, sendo que, por precaução, os médicos tendem a começar pela dose mais baixa e, progressivamente, vão aumentando até obterem evidências do seu efeito. Portanto, é comum que ao longo do tempo haja reajustamentos da dosagem, não por habituação mas sim por alterações nas questões anteriores.
FACTO: Tal como todas as medicações, existem efeitos secundários na toma do metilfenidato. Contudo, não existe confirmação de exista relação causal entre a toma do medicamento e uma desaceleração do crescimento.
Apesar desta possibilidade, a decisão do recurso a medicação é sempre resultado de uma reflexão por parte do médico e dos pais sobre os benefícios e o impacto no bem-estar emocional da criança e na sua vida familiar, social e académica.
FACTO: Cada caso é um caso, dependendo da idade, da intensidade e impacto dos sintomas nos diferentes contextos de vida da criança. Haverá situações em que não se justifica a introdução de uma intervenção farmacológica, outras em que poder-se-á optar apenas por medicação e outras, na sua maioria, em que recomendar-se-á uma abordagem multimodal, que inclui intervenções farmacológicas e psicológicas direcionadas à criança, à família e ao contexto escolar.
FACTO: Estudos recentes têm demonstrado o oposto. Quando existe um percurso com medicação e outras intervenções, a criança tem mais hipóteses de fazer um caminho de sucesso, o que muitas vezes previne a manifestação de comportamentos que a coloquem em situações de risco.
Também, pelo facto de a medicação atenuar os sintomas da PHDA, os adolescentes ou adultos acabam por ter maior controlo da sua impulsividade e evitam comportamentos de risco.
Como se pode ver, são muitos os mitos que existem à volta da PHDA. Antes de iniciar qualquer tratamento ou intervenção, informe-se e faça-o com especialistas, onde as características da criança/jovem serão tidas em conta e onde o tratamento será individualizado e pensado para ele.
Acima de tudo, não se culpe!